As teorias de Peter Greenaway sobre os caminhos do cinema contemporâneo foram expostas ontem à noite no Salão de Atos da UFRGS, durante o 22º encontro do Curso de Altos Estudos Fronteiras do Pensamento. Proclamando o esgotamento do convencional, o diretor de A tempestade (Prospero’s Books) e o O Cozinheiro, o Ladrão, Sua Mulher e o Amante, apresentou a palestra “O cinema está morto. Longa vida ao cinema”.
Para o cineasta e professor da European Graduate School, o uso das novas tecnologias seria a alternativa que permitiria a recriação de um meio que vem sendo utilizado da mesma maneira há mais de 100 anos. A salvação do cinema contemporâneo viria da sua própria ruína, já que a interatividade e a multimídia seriam, declara, “os grandes assassinos da noção clássica de cinema”. Um público familiarizado com essas características de mídia, a “geração laptop”, não entenderia a ideia de permanecer duas horas sentado em um mesmo lugar, em uma sala repleta de estranhos. Ao matarem o “velho meio”, acabando com a noção passiva de cinema, a tecnologia digital rompeu antigos paradigmas, tornando então possível –e necessária– a reinvenção.
Durante a palestra, Greenaway deu três exemplos do seu trabalho nesse processo de renascimento da “antiga mídia estética”. No primeiro deles, demonstrou a possibilidade de levar tecnologia a uma pintura clássica como Night Watch, do holandês Rembrandt. Som, luz e manipulação digital são utilizados para estabelecer um diálogo entre a tela e o público, “tornando interessante em 2007 a arte de 1642”, justifica. Na apresentação de um trecho da trilogia The Tulse Luper Suitcases (As malas de Tulse Luper), o segundo exemplo, o diretor buscou romper com o que chama de tiranias do cinema: o texto, o enquadramento, o ator e a câmera. A proposta coloca o texto falado na tela, utiliza vários enquadramentos justapostos e vários atores interpretando o mesmo papel. A câmera aparece em todas as suas formas, da animação ao convencional. Para o diretor, é preciso erradicar as tiranias para seguir adiante, “desenvolver algo rico e estranho que se aproxime mais da complexidade da vida”.
No seu último exemplo, a apresentação do trailer de Nightwatching, também baseado em Rembrandt, Greenaway retoma a fórmula de outros trabalhos, utilizando a sua formação em arte para compor cada cena como se fossem pinturas. A proposta, chamada pelo diretor de alfabetismo visual, revela também o lado prático do diretor: a promoção do seu último filme. Em tempos de morte e renascimento da sétima arte, além do combate ao cinema convencional e a adaptação às novas tecnologias, é preciso, parece, garantir também recursos e público.